O Prof. Dr. Igor Dias Jurberg, docente do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Unicamp, foi eleito como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências no período 2024-2029.
O Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC 2024-2028 da Região SP foi realizado no dia 1o de outubro, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo.
O vice-presidente da ABC para a Região SP, Glaucius Oliva, que compôs a mesa com a diretora da Esalq, professora Thais Vieira, apresentou os cinco pesquisadores de excelência diplomados na ocasião, eleitos para a ABC no final de 2023 por cinco anos. Ele destacou o contexto em que os novos membros da ABC estão assumindo esse novo compromisso com a ciência: um período marcado por sucessivos cortes no financiamento da educação e da ciência, um tempo de negacionismo científico, com desinformação numa dimensão nunca concebida.
“É um tempo de ideias nefastas e estapafúrdias como o terraplanismo, a negação da evolução darwiniana, a negação das mudanças climáticas geradas por ação humana, a negação do impacto positivo das vacinas como forma de imunização no combate a epidemias mortais, enfim… esses são apenas alguns exemplos de ideias que hoje correm soltas pela sociedade, fundamentalmente difundidas através das redes sociais, alimentadas por ‘blogueiros’, ‘influenciadores’, que usam da desinformação como forma de atrair o seu público”, apontou Oliva, acrescentando que são movidos por motores econômicos e de poder.
Para lidar com essa circunstância, a ABC montou dois grupos de trabalho, compostos por Acadêmicos e especialistas convidados: um para estudar a desinformação científica e outro para debater a evolução darwiniana da forma mais ampla possível.
O trabalho resultou em duas publicações: “Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica” e “Evolução é Fato”, que busca explicar o processo de adaptabilidade das espécies como diferença para a seleção natural com muitos exemplos brasileiros. “O livro tem capítulos sobre aspectos bem variados da evolução e é muito significativo nesse momento”, ressaltou o bioquímico.
Oliva ressaltou que esse momento requer um esforço redobrado de todos que trabalham no âmbito da ciência “pelo restabelecimento da razão e dos marcos civilizatórios que delineiam o mundo moderno, através da forte comunicação com a sociedade sobre a importância e o valor da ciência na vida humana em todas as suas dimensões”. Para o vice-presidente da ABC para a região SP, o conjunto de apresentações dos novos membros afiliados da ABC “é uma prova de que a ciência brasileira está viva e pujante, assim como o fato deste evento estar sendo realizado na USP, a maior universidade do Brasil, considerada entre as 100 melhores do mundo. A ciência brasileira mostra sua força, prova que sobreviveu aos ataques do governo anterior, tendo hoje qualidade e escala para responder às demandas do Brasil em busca de um país socialmente justo”, disse Glaucius Oliva.
Por fim, o Acadêmico destacou que foi a excelência do trabalho científico deles que os levou até ali. “Sua eleição para a ABC os coloca agora na dianteira na luta pela ciência e pela educação no Brasil. Além do trabalho brilhante que vocês têm realizado em seus laboratórios e sala de aula, vocês agora assumem novas responsabilidades com a luta pela ciência, sua divulgação e popularização. Sejam muito bem-vindos e mãos à obra”, concluiu.
Foram diplomados cinco pesquisadores de excelência, eleitos para a ABC por cinco anos.
Conheça os novos membros afiliados:
Foco na química orgânica
Professor da Unicamp, Igor Jurberg aplica seu conhecimento na síntese orgânica e colabora com grupos na área de química medicinal, visando o desenvolvimento de fármacos contra doenças parasitárias.
Equações diferenciais e fronteiras livres
O matemático João Vitor da Silva, professor da Unicamp, trabalha com problemas que descrevem fenômenos naturais como o derretimento do gelo em um meio líquido.
Microorganismos na agricultura brasileira
Professora da Esalq/USP, a engenheira agrônoma Maria Carolina Quecine pesquisa sobre como os microorganismos podem ajudar a aumentar a produtividade agrícola brasileira.
Estudando os ‘fagócitos profissionais’
A bióloga Larissa Dias da Cunha, professora da USP, pesquisa moléculas do nosso sistema imune responsáveis por identificar e atacar patógenos.
A cerimônia de diplomação
Para saudar os novos membros afiliados foi convidado o professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, Maurício Roberto Cherubin, eleito para o período 2023-2027 na ABC. Ele destacou o compromisso da ABC com a excelência científica e com o desenvolvimento do país, reforçando a ideia de que o momento exige colaboração, que é mais importante do que nunca. “Na ABC vocês encontrarão um ambiente propício para o diálogo. Desejo que aproveitem ao máximo as oportunidades de aprendizado e as redes de colaborações que a Academia oferece. Juntos, temos a chance de enfrentar os desafios atuais e moldar o futuro da ciência no Brasil”, concluiu.
Larissa Dias da Cunha agradeceu em nome dos diplomados e destacou o papel dos jovens cientistas no desenvolvimento sustentável e inclusivo do Brasil. “Na Cúpula do S20 Brasil, cinco temas científicos estratégicos foram destacados para a transformação mundial: inteligência artificial, bioeconomia, transição energética, desafios de saúde e justiça social. Esses temas dialogam diretamente com os desafios que estamos enfrentando como nação: o enfrentamento da disseminação massiva e metódica de desinformação, secas, queimadas, alagamentos devastadores, assim como a necessidade urgente de criar e compartilhar conjuntos de dados científicos grandes e bem-organizados, respeitando a sua governança”, apontou Larissa.
Além disso, a Acadêmica ressaltou o desafio enfrentados pelas universidades e centros de pesquisa públicos de promover maior equidade e diversidade, “tanto em suas composições quanto na orientação de suas atividades para a sociedade, felizmente em um cenário de crescente conscientização e que exige tomada de ações práticas para sanar as nossas injustiças sociais”, avaliou. Por outro lado, Larissa da Cunha evidenciou o problema crônico do financiamento de grupos de pesquisa já estabelecidos, “que convivem há quase uma década com restrições nos aportes financeiros após um período de crescimento sem precedentes na virada do século. Como jovens pesquisadores, em diversas áreas, devemos nos engajar ativamente na construção de soluções para esses desafios.”
Ela resgatou as palavras inspiradoras da Acadêmica Elisa Reis em recente evento da ABC: “’O pessimismo é um luxo moral – a ciência que se rende ao pessimismo e ao fatalismo se nega’. Como membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências, manter o otimismo será fundamental para que possamos agir de forma proativa diante do chamamento da sociedade, e para que nos mantenhamos firmes no propósito da ciência como uma vocação comprometida a derrubar certezas, quando essas já não refletem a realidade.”
Por fim, a pesquisadora exaltou o chamado da ABC. “A Academia Brasileira de Ciências nos convoca a participar de maneira proativa nos seus diversos grupos de trabalho, somos chamados a promover o conhecimento e a inovação em um país que necessita da ciência para superar crises e prosperar. Como diz a professora Helena Nader, educação e ciência são investimentos, e não despesas. Essa visão nos guia e esperamos vê-la cada vez mais presente nas decisões da sociedade e dos gestores públicos, apontou.
Em nome dos novos afiliados, agradeceu a eleição para fazer daquela prestigiada comunidade. “Estamos prontos para colaborar com todos os membros desta Academia, enfrentar os desafios futuros e contribuir para um Brasil mais promissor e sustentável”, concluiu.
Transição energética, meio ambiente e sustentabilidade
Este foi o tema da aula magna proferida pelo Acadêmico Julio Meneghini (USP), que é diretor científico do Centro de Pesquisa para a Inovação em Gases de Efeito Estufa da Universidade de São Paulo (RCGI/USP). Ele é físico, engenheiro civil e doutor em engenharia aeronáutica.
“Estamos há anos discutindo sobre as mudanças climáticas. Hoje, no entanto, a questão já evoluiu para uma emergência climática”, alertou o cientista. “Não vai ser uma área sozinha que vai dar uma solução. É um desafio a ser enfrentado com transdisciplinaridade”, apontou o Acadêmico.
Os números são alarmantes e nenhum objetivo do desenvolvimento sustentável será alcançado – como acabar com a fome – sem que antes se enfrente a questão climática. “Ela perpassa tudo”, afirmou o pesquisador.
“Temos potencial de liderança na transição energética”, disse Meneghini. “As emissões de maior peso do Brasil dizem respeito ao uso da terra, o desmatamento, as queimadas. Nos outros países, em geral, a questão é de matriz energética. De acordo com o especialista, o Brasil tem boas perspectivas em termos de matrizes energéticas sustentáveis, embora hoje ainda esteja longe disso. As oportunidades são muitas, por conta da biodiversidade e da abundância de recursos naturais. “Temos potencial em bioenergia, hidrogênio verde e energia eólica offshore. Temos capacidade de inovação em tecnologias limpas. Podemos desenvolver agricultura sustentável e soluções baseadas na natureza”, pontuou.
Ele apresentou diversas linhas de pesquisa que desenvolve em seu laboratório, como a produção de eletricidade limpa a partir de etanol. Ele é transformado em energia limpa, eficiente e como baixas emissões, por meio de células a combustível de óxido sólido (SOFCs). Outro exemplo que apresentou foi de um trabalho que está sendo desenvolvido em São Carlos e no CNPEM, de tecnologias fotocatalíticas para produção de hidrogênio verde. “Na Esalq estão buscando soluções baseadas na natureza, como a captura de carbono pelas florestas e pela agricultura sustentável, com iniciativas de reflorestamento e manejo sustentável no Brasil. Como benefícios adicionais, se faz a proteção da biodiversidade e apoio à economia rural”, apontou o pesquisador.
A questão de terras degradadas no Brasil, segundo Meneghini, tem um potencial enorme. Se elas forem recuperadas, se pode reflorestar parte e usar outra parte para gado e agricultura. “Temos ciência para juntar a floresta com a agricultura e as pastagens, é possível conciliar o crescimento econômico e a preservação ambiental. Temos potencial para colaboração internacional em projetos de grande impacto. E é por aí o papel dos jovens cientistas em moldar o futuro energético do país”, disse o palestrante.
No entanto, entre o potencial do país e sua realização há um processo, que requer investimento em pesquisa, assim como colaboração entre ciência, indústria e governo para maximizar seu impacto. “Precisamos recuperar o que foi perdido nos últimos anos e avançar no financiamento para evitar uma tragédia climática. Mas isso só vai se realizar se o Brasil não perder as oportunidades”, finalizou.
Assista o evento na íntegra no YouTube da ABC
Fotos: Gerhard Waller/Esalq-USP/DvComun
Fonte: https://www.abc.org.br/2024/10/02/saiba-tudo-sobre-o-simposio-e-diplomacao-dos-membros-afiliados-da-abc-2024-2028-da-regiao-sp/